terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Composta por extremos

Um paradoxo.
Utópica e distópica.
Paciente e colérica.
Prolixa e concisa.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

A luz


"Então eu imagina você vindo. Como eu te imaginava." (Caio F.)

Seus olhos azuis reluziam para ela. No seu sorriso ficava passada, parecendo aquele primeiro namoro de adolescente. Ele chegou com uma rosa vermelha, deu-lhe um beijo na testa e disse: "Você aceita passar o resto da vida com esse caro chato?" Chorou, mas de alegria, queria contar-lhe algo quando ele a pediu em casamento. Colocou a mão na barriga, "agora somos três, se você aceitar passar o resto da vida com essa chata e nosso filho ou filha, então aceitarei." Por um instante ele não teve reação, ela ficou com um pouco de medo, mas logo aquele sorriso maravilhoso que a encantou desde a primeira vez voltou a face dele. Se sentaram na varanda e se beijaram, intensamente!
Ele começou a dizer do dia em que se conheceram, que no instante que a viu sabia que teria que ser ela, sabia que era com ela que queria se casar, que queria ter filhos e agora, agora estava virando realidade. Ela riu, chamou ele de clichê, e disse que era mentira, que ele nem se quer tinha reparado nela, até ela quase cair ao seu lado, desastrada. Ele riu dela e não pra ela, mas no final achou engraçadinha aquela menina desengonçada e segurou-a pela mão. Já no primeiro instante ela apaixonou quando seus olhares se cruzaram. Eles conversaram um pouco naquela noite, ele pegou seu telefone e disse que precisaria ir embora. Ela ficou triste, pois pensou que mais uma vez, mais uma vez tinha acabado ali, sozinha e talvez pra sempre ficaria só.

Passaram-se cinco dias quando seu telefone tocou, era ele, reconheceu de imediato aquela voz, aquela voz que a semana inteira esperou aflita que a ligasse. Conversaram sobre coisas banais e ele perguntou se não aceitaria ir em um bar, escutar uma boa música, beber uma cerveja. Tentou se fazer de difícil, dizer q teria compromisso, mas no final não aguentou, seu forte não era esse e se ele nunca mais a procurasse, as desilusões já foram tantas, não poderia deixar ele escapar por pura vaidade. Disse que sim, no horário combinado ele a pegou em casa. Passaram uma noite agradável, mas ele se quer tentou beijá-la e isso a estava deixando louca. Quando estavam chegando na casa dela, ela perguntou se ele não a beijaria, ele sorriu, aquele sorriso que desde de então ela nunca esqueceu e a beijou. Hoje fazia exatamente um ano e seis meses que estavam juntos. Ela acabará de saber que estava grávida e ele a tinha pedido em casamento, antes mesmo de saber da novidade.
Foi tudo perfeito, então despertador tocou e ela voltou para a realidade. Mas acordou sorrindo, procurando por sua luz no fim do túnel.



"Ria de mim, mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor. Cuidado, comigo: um dia encontro.” Caio Fernando Abreu

sábado, 5 de dezembro de 2009

Flores murchas


"Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha... Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas..."
(Clarice Lispector)


Ela se encontrava em plena crise existencial. Várias coisas passavam por sua cabeça, mas ela sabia que tinha que ser forte para não deixar que pensamentos obscuros a dominassem e conseguissem fazê-la desistir. Isso não seria a solução, ou talvez até seria, mas não estaria enfrentando seus problemas, somente fugindo dos mesmos.
Problemas, quais seriam eles? Não passava fome, tinha família, casa, estudos, amigos e saúde. Então não havia problemas. Não pra quem está de fora da situação. Sua vida sempre foi muito conturbada, personalidade forte, humor instável, crises, infância complicada, adolescência de extrema rebeldia, falta de compreensão, falta de carinho. A vida inteira precisou lutar sozinha contra seus maiores fantasmas, não foi fácil para ela.
Agora com lágrimas nos olhos se lembra de tudo que enfrentou, do quanto foi forte, mas do quanto se achava fraca para continuar. Desistir, talvez fosse o melhor caminho. Não era uma vitoriosa, talvez sempre fosse uma perdedora, talvez nunca conseguisse nada na vida e todos os erros que cometeu não a ajudaram, não se livrou deles a tempo e pra sempre eles vão persegui-lá.
Chorava, desejava alcançar uma meta, mas tinha medo de não conseguir. O que faria se não conseguisse? Mais uma derrota, fraca, sem vida, sem estímulos. Socos e pontapés, acreditava que tinha se acostumado com eles e que depois passava, mas não, se sentia cansada, todo seu vazio interior e sua dor a consumiam. E aos poucos seus sonhos murchavam, como as últimas flores que recebeu, fazia tanto tempo que não recebia flores.
Tentava pensar em todos aqueles amigos que a faziam sorrir, mas nem nisso acreditava mais, foram tantos que a decepcionaram, por que agora seria diferente?
Drástica e pessimista, quem sabe ela estaria sendo isso, mas a verdade é que nem ela sabia o que estava acontecendo, nem o porquê, e não sabia se conseguiria se livrar disso tudo, mais uma vez...


"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso."
(Caio F.)